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Janela quebrada no Palácio do Planalto, em 8 de janeiro de 2023

8 de janeiro: maior parte dos presos são brancos, de baixa renda e têm entre 36 e 45 anos

Um levantamento inédito realizado pelo jornal O GLOBO sobre os processos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) mostra que, no 8 de janeiro: a maior parte dos presos são brancos, de baixa renda e têm entre 36 e 45 anos. O jornal analisou os 1.581 casos e revelou características socioeconômicas e demográficas que ajudam a compreender quem participou da invasão aos prédios dos Três Poderes em Brasília.

Faixa etária e escolaridade dos acusados no 8 de janeiro

O senso comum imagina que idosos compunham a maioria dos detidos, mas os dados desmentem essa percepção. Segundo o estudo sobre os presos de 8 de janeiro: maior parte dos presos são brancos, de baixa renda e têm entre 36 e 45 anos, apenas 1,19% tinham mais de 65 anos. Jovens entre 21 e 24 anos representam somente 10,36% dos processados.

Quanto à escolaridade, 42,2% dos presos possuem Ensino Médio completo. Apenas 18,6% têm Ensino Superior completo, enquanto 11,8% não concluíram o Ensino Fundamental.

O caso emblemático de Rodrigo de Freitas Moro Ramalho, entregador por aplicativo de 35 anos, ilustra bem este perfil. Ele deixou a mulher e dois filhos em Marilha, a 420 quilômetros de São Paulo, para participar das manifestações que resultaram na invasão e depredação do Palácio do Planalto e sedes dos outros Poderes.

Ocupação profissional e renda dos manifestantes

Entre os presos do 8 de janeiro: maior parte dos presos são brancos, de baixa renda e têm entre 36 e 45 anos, profissionais autônomos constituem a maioria dos processados, representando 43,42% dos casos. Outros 18,6% estavam desempregados quando foram detidos, e 11,6% eram empregados com carteira assinada. Aposentados somam apenas 3,28% dos acusados.

No aspecto econômico, os dados confirmam o que diz o título – 8 de janeiro: maior parte dos presos são brancos, de baixa renda e têm entre 36 e 45 anos – pois 46,43% dos réus recebem até um salário mínimo, e 33,8% ganham entre um e dois salários mínimos (R$ 3.036 na época). Apenas 0,09% têm renda superior a 12 salários mínimos.

Filiação partidária e gênero

O estudo do O GLOBO identificou que 210 dos envolvidos (13,3% do total) possuem filiação partidária. Destes, 90 são filiados ao Partido Liberal (PL), o mesmo do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Partido dos Trabalhadores (PT) aparece em segundo lugar, com 15 filiados entre os processados.

Quanto ao gênero, 65,45% dos detidos são homens e 34,54% são mulheres. Na classificação por raça/cor, 55,5% se declaram brancos, 43,75% pardos e menos de 1% pretos ou indígenas.

Análise acadêmica sobre o perfil

Para Débora Messenberg, professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), o perfil dos detidos do 8 de janeiro: maior parte dos presos são brancos, de baixa renda e têm entre 36 e 45 anos se assemelha ao encontrado nas pesquisas sobre o eleitorado de Bolsonaro.

“A precarização do trabalho impulsiona o avanço da direita radical no planeta, não só no Brasil. São pessoas que enfrentam situação de precariedade. Ao mesmo tempo, têm algum nível de escolaridade e não necessariamente estão nessa situação há muito tempo”, explica a socióloga.

Isabela Kalil, coordenadora do Observatório da Extrema Direita e antropóloga, destaca que o perfil dos processados refuta a hipótese de que Bolsonaro usou a população mais vulnerável economicamente como “bucha de canhão” para a conspiração.

“O medo e a frustração são canalizados para criar um outro inimigo: o PT, o Lula”, afirma Kalil.

Situação atual dos processos

Até o momento, o STF condenou 503 pessoas pelos atos golpistas, com penas que variam de 3 a 17 anos de prisão. Muitos dos réus cumprem prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica ou receberam o benefício criado pelo governo Bolsonaro para a população de baixa renda durante a pandemia, como é o caso de Rosimeire Lira, desempregada na época dos atos.

O STF intensificará o ritmo de julgamentos nos próximos meses, com centenas de processos ainda aguardando análise pela Corte Suprema.